O projeto dessa habitação procura tanto reconstruir, como também ampliar, uma ruína em um retiro de repouso, em um terreno com características morfológicas extraordinárias, entre o rio Cavado e seus afluentes. O terreno, de 4.060m2, está em uma área de proteção ambiental e tem a exigência de uma construção em concreto e a preservação de todas as árvores. A capacidade construtiva é ditada pela ruína existente.
Desde a primeira visita no terreno ficou claro que lidávamos com um projeto delicado. A locação do edifício na área foi essencial, já que o entorno foi a principal referência para a construção.
Sendo os clientes praticantes de ski aquático por 20 anos, o rio foi um importante fator na escolha do terreno. Para eles, a perspectiva excepcional do rio deveria ser o elemento da casa; para nós, arquitetos, esse elemento deveria ser um espaço interno valioso, porém, o oposto também era relevante – a casa só poderia atuar como um elemento da natureza.
Depois de identificar o terreno, desenvolveu-se uma análise pragmática das circunstâncias: as demandas do programa eram uma habitação para um casal e uma criança; uma suíte para visitas, preferencialmente, deslocada da habitação; e também um depósito para os equipamentos do ski aquático, com um chuveiro, banheiro e área para esse armazenamento.
A área da habitação, inevitavelmente pequena, foi especificada pelas dimensões reduzidas da ruína pré-existente. Por isso, os primeiros esboços do projeto aparecem dependentes dessas dimensões… Enquanto isso, a decisão fundamental revelou-se através da orientação da habitação. A posição final no terreno, perpendicular ao slop, procura uma relação melhor com a área e a plataforma onde está colocada, evitando todas as árvores e danos fora da área da habitação. A leve intervenção é reforçada por um volume em balanço que ultrapassa a borda do penhasco, maximizando a aparência transparente do rio, e reduzindo a ocupação do solo.
A residência faz uma referência dialética à Malaparte House e a marcante mesa Less, de Jean Nouvel, sugerindo uma solução construtiva para o topo da parte em balanço.
Como uma casa parcialmente enterrada, vista da entrada principal a casa parece minimizada; entretanto, vista do rio, ela aparece como uma moldura de vidro disfarçada na vegetação. A relação estabelecida pelo projeto e a ruína define ambos os acessos e a escala da intervenção, transformando a pré-existência em uma presença constante no interior da casa, como qualquer outro elemento da natureza.
A plasticidade do concreto com relação à exuberante flora foi determinante, e por isso o desenho cuidadoso da peça de concreto. O volume de concreto com uma cobertura acessível é completamente revestido com bétula no interior.
Arquitetos: Graça Correia e Roberto Ragazzi
Localização: Caniçada, Vieira do Minho, Portugal
Área terreno: 2000 m2
Área construída: 150 m2
Cliente: João Telmo Monteiro P. Ferreira
Colaboradores: Ana Neto Vieira, Susana Silva, Telmo Gomes, Katharina Wiederman, Pedro Gama
Estrutura: GOP
Serviços hidráulicos: GOP
Serviços elétricos: Raul Serafim & Associados
Coordenação e supervisão: Graça Correia e Roberto Ragazzi
Construtora: Almeidas & Magalhães, Lda
Ano do projeto: 2003
Término da construção: 2006
Fotografias: Alberto Placido (AP), Juan Rodrigues (JR) & Luis Ferreira Alves (LFA)